Compositor, regente, multi-instrumentista, professor e pesquisador
Ricardo Tacuchian é considerado, depois de Villa-Lobos o maior compositor para violão do país. É o criador do Sistema-T de organização de alturas. Seu catálogo musical possui mais de 250 peças executadas em salas de concertos do Brasil e do exterior.
Ricardo Tacuchian nasceu em uma família de descendentes de armênios, no Rio de Janeiro. A música entrou em sua vida através do incentivo dos pais “como se fosse uma espécie de ascensão social – tendo um filho que estudasse piano, os clássicos, isso valorizaria um pouco a vida deles”, relembra o compositor (Glosas).
Aos nove anos produziu suas primeiras composições e, aos 12, ingressou na Escola Nacional de Música. De forma concomitante aos estudos musicais cursou também a faculdade de medicina, na UERJ. Destaca que José de Lima Siqueira, foi a figura mais importante de sua trajetória musical, uma espécie de “pai espiritual” (Glosas).
No período em que ingressou na faculdade de música, entre as décadas de 1950 e 1960, o violão não contava com grande simpatia de parte dos estudiosos da música. Ricardo Tacuchian recorda de um episódio que marca a quase marginalidade do instrumento nas instituições de ensino naquele momento.
O compositor relata que certa vez, um aluno da escola ingressou no prédio carregando um violão. Esse gesto, desatou uma série de comentários indignados que diziam que a escola não devia permitir a entrada deste tipo de aluno. (Entrevista a Humberto Amorim)
Por ser bastante ligado ao folclore, tocado nas cidades do interior do Rio de Janeiro que Tacuchian desbravava quando criança e por explorar ao máximo a sonoridade oferecida por Villa-Lobos, o músico nunca compreendeu muito bem tal rechaço.
Anos mais tarde, o compositor foi um dos grandes responsáveis pela criação do ensino formal do violão nas universidades, cuja pioneira foi a UFRJ, instituição em que lecionou desde a sua graduação em Piano (1963) e em Composição e Regência (1965)
O professor Turíbio Santos, fundador do curso em 1980 destaca que “Ricardo Tacuchian tem um lugar especial nesta história” (Música UFRJ). Antes disso, o compositor foi um dos criadores do curso de Música Brasileira em 1970, também na UFRJ.
"Todo artista gosta de criar, mas eu estou preocupado em me comunicar com o público"
Durante a década de 1970 fundou o Ars Contemporânea, onde produziu uma série de obras. Neste período dirigiu também o grupo Síntese, voltado para a pesquisa e a execução de um repertório medieval e renascentista. Tacuchian salienta que sua formação musical foi realizada em uma época em que a “bíblia” era Mário de Andrade, o que o inseriu em uma vertente nacionalista. O compositor se aproximou de novas linguagens musicais durante o seu doutorado na Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, durante as décadas de 1980 e 1990.
A partir daí, passou a explorar novas texturas e novas linguagens musicais. De sua aproximação com as correntes pós-modernas surge o Sistema-T, um sistema de organização de alturas, que foi desenvolvido por ele e é reconhecido mundialmente.
Em 1985 regeu dois mil músicos na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro. Tacuchian recorda que o então secretário da cultura, Darcy Ribeiro, apoiou a iniciativa e, a partir disso, selecionou um repertório de música brasileira, que foi enviado para bandas de todo o estado. “Foi a maior concentração instrumental da história do Brasil. Não foi musicalmente perfeito, mas foi bastante honesto”, relembra o compositor (Glosas).
O seu amplo catálogo de obras possui mais 250 composições, que já foram interpretadas em salas de concerto do Brasil e do exterior. Participou de festivais como o Tribune Internationale des Compositeurs du Conseil lnternational de la Musique, da UNESCO (1977), o Music of the Americas Festival (2001) na Flórida e o Other Minds Music Festival (2002) em São Francisco.
Além de se dedicar à composição, à pesquisa e ao ensino, Ricardo Tacuchian também ocupou os cargos administrativos na UFRJ e também na UNIRIO. Foi regente da Orquestra Sinfônica da UNIRIO e ocupou, por dua vezes (1993/7 e 2006/9) a presidência da Academia Brasileira de Música, instituição que integra desde 1981.
O músico colabora também com inúmeras instituições de pesquisa e ensino no Brasil e também no exterior, como a universidade de Nova Lisboa, em Portugal, da qual foi professor visitante. Diante de suas inúmeras contribuições à música contemporânea brasileira, o FMCB homenageou Ricardo Tacuchian durante a sua primeira edição realizada em 2014.
Fontes
Glosas
Musica Brasilis
Entrevista concedida a Humberto Amorim
Vídeos
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