A crise sanitária imposta pelo novo coronavírus trouxe inúmeros impactos no cotidiano que alteraram, não apenas nossas práticas de sociabilidade, mas também as atividades laborais. Na economia, os setores culturais, e em especial, o da música, enfrentam grandes dificuldades em face de uma série de incertezas que se materializam nos tristes e expressivos números de mortos e contaminados pelo vírus e também, pelo desemprego no setor.
Com a adoção de protocolos sanitários que determinaram o fechamento – e posteriormente, a limitação de público – de bares, casas noturnas e restaurantes e ainda, o cancelamento de uma série de eventos ao longo do ano, trabalhadores da cultura sentiram de forma direta os efeitos econômicos da paralisação das atividades. Outro drama enfrentado pelas famílias brasileiras na pandemia foi o aumento no número de desempregados. O país registrou o crescimento de 33,1% na taxa de desemprego, segundo o IBGE.
Pesquisas realizadas em anos anteriores demonstraram a importância do setor cultural e de áreas correlatas para o desenvolvimento da economia. Segundo o levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Sebrae, realizado em 2019, a economia criativa correspondia a 2,64% do PIB brasileiro e era a responsável por gerar 4,9 milhões de postos de trabalho. No mesmo ano, o turismo, setor correlacionado, foi o responsável por mais de 8% do PIB brasileiro.
Durante o isolamento social as pessoas buscaram na internet e no consumo cultural formas de mitigar os efeitos do distanciamento. De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Itaú e pelo Datafolha 84% dos entrevistados usaram a internet para ouvir música, 73% acompanhou filmes e séries via streaming e 60% deles aproveitou este momento para assistir a shows virtuais.
Mesmo antes da pandemia, o Brasil já era considerado um país em que a música ocupa um lugar de destaque. Segundo a pesquisa realizada pela ABRAMUS em 2018, 80% dos entrevistados afirmaram que ouviam música todos os dias, ao passo que, 60% deles acreditam que não conseguiriam viver sem música.
Nos meses em que o confinamento foi mais estrito, as lives e a procura por músicas proliferaram nas diversas plataformas online. O crescimento nas buscas por termos como “música quarentena”, “playlist quarentena” ou “live quarentena” deram um salto entre os meses de março e abril, como revela a ferramenta Google Trends. Muitos artistas consagrados da música nacional e internacional como Caetano Veloso, Teresa Cristina, Milton Nascimento, Orquestra Ouro Preto, Paul Mccartney e Roger Waters embarcaram na experiência de realizar lives.
Durante o hiato imposto pela pandemia, a internet ocupou um importante papel na manutenção e aprofundamento dos vínculos entre músicos e público, servindo, inclusive, como aliada financeira para muitos trabalhadores deste mercado. Outras alternativas como concertos pagos e transmitidos pela internet e os saudosos drive-ins também foram implementadas. A lei emergencial Aldir Blanc, aprovada em agosto de 2020, foi outra aliada dos trabalhadores dos setores culturais que foram diretamente impactados pela pandemia.
Entretanto, é importante salientar que nem todas as alternativas acima listadas foram aplicadas de maneira equânime ou conseguiram contribuir de maneira significativa para a saúde financeira dos trabalhadores da música. Músicos que costumavam tocar em bares e casas noturnas pelo Brasil afora foram os que mais sentiram os reflexos negativos sobre suas atividades. Um exemplo é o de Diego Andrade, músico que tocava nos bares de Recife e que, diante dos protocolos sanitários, precisou encontrar outras fontes de renda. Diego foi acompanhado pela jornalista Helena Dias do portal Marco Zero em sua nova rotina: a de entregador de comida por aplicativo.
Assim como ele, muitos brasileiros passaram a trabalhar de maneira informal para aplicativos de transporte e de entregas. O Portal do Trânsito revela que apenas na grande São Paulo o aumento de trabalhadores por aplicativo foi de 20% entre os meses de março e junho.
O cenário de instabilidade também impactou a vida nas escolas e universidades. Com as aulas presenciais suspensas, alunos e professores precisaram se adaptar ao cenário virtual para as classes, que, no caso do curso de Música, possui carga horária especial voltada para as aulas de performance. As pesquisas de pós-graduação também sofreram interdições neste período em que arquivos, acervos e bibliotecas precisaram permanecer fechados para evitar a proliferação do vírus.
O FMCB, que historicamente é realizado no mês de março, também precisou repensar suas atividades em homenagem aos compositores João Donato e Liduino Pitombeira. Pretendemos divulgar o mais breve possível a nova data do evento e a sua programação. Entendemos que o Festival de Música Contemporânea deve ser realizado respeitando todos os protocolos sanitários que garantam a integridade de nossos homenageados, dos músicos, dos participantes e do público em geral.
Enquanto não podemos nos encontrar presencialmente, você pode amenizar a saudade do FMCB no nosso canal no YouTube e também nas nossas redes sociais. Aproveita pra contar pra gente como a pandemia modificou a sua rotina com a música.