No dia da bossa-nova recorde os principais marcos e veja 5 obras para saber mais sobre o movimento

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Hoje, dia 25 de janeiro, é comemorado o dia nacional da bossa-nova. A data, foi instituída em 2009, em comemoração ao aniversário de Tom Jobim

A bossa-nova foi um dos mais significativo movimentos da música brasileira no século XX. Seu epicentro foi a zona sul da cidade do Rio de Janeiro e de lá, irradiou uma forma particular de interpretação e vocalização musical que se popularizou por diversos outros países. Este movimento, propunha uma renovação da música brasileira através da inclusão de novos elementos estilísticos que mesclavam o relato do cotidiano de suas letras, com melodias inspiradas no samba e no jazz.

A cronologia da bossa-nova estabelece como marco inicial o lançamento de Chega de Saudade, canção de autoria de uma das mais destacadas duplas da música popular brasileira: Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980). A música, originalmente gravada em 1958 por Elizeth Cardoso (1920-1990), ficou amplamente conhecida na voz de João Gilberto (1931-2019).

Entretanto, como todo movimento artístico, sua gestação remete a uma série de experiências prévias, que nem sempre, são compreendidas no momento em que saem à luz. Com a bossa-nova não foi diferente. No início da década de 1950, o compositor acreano, radicado no Rio de Janeiro, João Donato, já estava às voltas com uma linguagem sonora que propunha novos caminhos para a música popular.

Quando foi contratado para uma série de apresentações em um hotel ao lado do amigo, João Gilberto (1931-2019), Donato acreditou que era hora de demonstrar os resultados das experiências articuladas pelo dueto. No entanto, nem o público e nem o gerente do hotel compreenderam muito bem o que ouviram. O compositor recorda que o encarregado os procurou para dizer:


“olha, não se preocupem com nada, com pagamento, com estadia, com transporte, com alimentação. Está tudo certo. Só não quero é que toquem mais nem cantem mais nada.” (João Donato para O Observador)


Possivelmente não estivessem dadas as circunstâncias de tempo e de lugar para a apreensão deste estilo. Anos mais tarde, a bossa-nova se transformaria em um verdadeiro fenômeno no Brasil e no exterior, principalmente depois da apresentação de músicos como Sérgio Ricardo (1932-2020), Tom Jobim, Roberto Menescal, e do agora compreendido João Gilberto, no Carnegie Hall, em 1962.

João Donato por sua vez, não participou do boom da bossa-nova, preferindo buscar novas aventuras nos Estados Unidos, período em que fortaleceu seus vínculos com o jazz e se aproximou profundamente da música latina, bebendo principalmente das fontes do son cubano. A bossa-nova enquanto movimento se encerra na década de 80, contudo, músicos das novas gerações da MPB seguem buscando nestas produções, inspirações para suas criações musicais. O movimento também é uma fonte inesgotável para pesquisadores, escritores e cineastas, por isso, listamos aqui 5 obras para conhecer um pouco mais sobre a bossa-nova:

They Shot the Piano Player (2019). Esta animação, produzida pela britânica Film Constellation, com direção deJavier Mariscal e Fernando Trueba é uma homenagem à bossa-nova e aos seus principais artistas. Além disso, a produção lança um olhar especial sobre o desaparecimento do pianista Francisco Tenório Jr. ocorrido em Buenos Aires no ano de 1976. Tenório Jr. viajou ao lado de Toquinho e de Vinícius de Moraes para realizar uma série de apresentações no país vizinho. Na madrugada de 18 de março, o pianista saiu para comer e nunca mais retornou, mais de 40 anos depois, seu corpo nunca foi encontrado.

Essa tal de Bossa Nova (2012) O livro de Roberto Menescal, uma das figuras centrais da bossa-nova, apresenta um compilado de histórias e relatos sobre o movimento e também, sobre a MPB. No livro estão presentes lembranças sobre importantes marcos do movimento, como os encontros entre os músicos que alicerçaram as bases da bossa-nova e os bastidores da apresentação no Carnegie Hall.

Bossa Nova – 60 anos (2018). Este documentário produzido pela TV Brasil celebra os 60 anos do movimento. Para repassar os principais eventos que marcaram a origem e o ápice da bossa-nova, são ouvidas alguns de seus protagonistas como João Donato, Leny Andrade, Roberto Menescal, Marcos Valle, Paulo Jobim, Joyce Moreno, entre outros.

Chega de saudade: A história e as histórias da Bossa Nova (1990). O livro de Ruy Castro lança um olhar sobre a vida cultural e boemia do Rio de Janeiro no período de gestação do movimento. O autor reconstitui esta etapa da história da música brasileira através de uma série depoimentos de músicos como Sylvinha Telles, Elis Regina, Ronaldo Bôscoli, João Gilberto e Tom Jobim.

Eis aqui os Bossa-nova (2008). Trata-se de uma versão ampliada e atualizada escrita pelo historiador Zuza Homem de Mello, que originalmente lançou a obra em 1976. O livro reúne depoimentos dos principais nomes da bossa-nova como Johnny Alf, Tom Jobim, Nara Leão e Vinícius de Moraes. Na edição de 2008 Zuza atualiza o seu olhar sobre a bossa-nova, trazendo novas interpretações e indagações sobre o movimento.

Helena Antunes de Moraes
Helena Antunes de Moraes
Analista de Comunicação e Projetos no Grupo Sintonize