No mês de aniversário da compositora Marisa Rezende o FMCB repassa uma de suas tantas contribuições para a música brasileira: a criação do Grupo Música Nova, na Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ).
A década de 1970 viu florescer um crescente debate em torno da música contemporânea criada e interpretada no Brasil. Estimulados pela criação de eventos como as Bienais, idealizadas pelo compositor Edino Krieger, que, à época, ocupava o cargo de diretor da Rádio MEC, pesquisadores, compositores e críticos, sentiram-se impelidos a buscar novas linguagens e novos espaços de partilha, colaboração e divulgação das obras produzidas no país.
Uma década depois da discussão inicial, Marisa Rezende, que foi uma das participantes assíduas destes eventos criou um espaço privilegiado para trocas e aprimoramento dos acadêmicos. O Grupo Música Nova se estruturou como um grupo de pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição na qual Marisa lecionou a disciplina de Composição entre os anos de 1987 e 2002.
Em seu artigo Bons Tempos Aqueles…, publicado na revista da Anppom (2018), Marisa Rezende descreve que “A premissa desse projeto era extremamente simples: o aprendizado da composição precisa da experimentação e verificação da obra composta por meio da escuta de sua execução. Por outro lado, o aluno de instrumento carece da experiência da prática de música contemporânea e de música de câmara. Isso levou à ideia de formar um conjunto estável de alunos instrumentistas, ensaiando duas vezes por semana e trabalhando diretamente com os alunos compositores”.
Assim, a partir de um mecanismo colaborativo os alunos de instrumento podiam praticar novas técnicas e linguagens e os alunos que se dedicavam à composição tinham a oportunidade de terem suas obras interpretadas.
O grupo contou com o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) entre os anos de 1989 e 1997, algo que possibilitou que os alunos obtivessem bolsas de iniciação que eram ofertadas entre os compositores e os intérpretes.
“Era um projeto aberto para todo o alunado de graduação da escola, fosse aluno meu ou não, fosse bolsista ou não, todos podiam participar”.
Marisa Rezende ao FMCB
Esta ideia embrionária de Marisa Rezende ganhou força e com o passar do tempo o Grupo foi cada vez mais solicitado. Segundo ela, no primeiro ano (1989) o Música Nova realizou três concertos, chegando a oito em 1996, número que revela uma pequena fração das mais de 40 apresentações realizadas ao longo do período em que o grupo esteve em atividade.
O grupo recebeu convites para apresentações em espaços como a Sala Cecília Meireles, o CBB, o IBAM e a própria Escola de Música da UFRJ. Além disso, também se apresentou em mostras e bienais como a I Mostra de Música Contemporânea de Ouro Preto (1991) e também o Festival Música Nova de São Paulo e Santos (1994). Assim, o Música Nova foi responsável por estrear mais de 100 peças de novos compositores e de visibilizar as ações e práticas desenvolvidas na universidade para toda a comunidade.
O Música Nova também gravou um disco que foi lançado em 1998 pela gravadora Tons & Sons. No entanto, o projeto perdeu fôlego depois que a política de concessão de bolsas foi revista pelo CNPq. Segundo Marisa Rezende, o trabalho do Grupo Música Nova não foi interpretado como um trabalho de pesquisa e por este motivo, deixaram de receber os repasses financeiros que haviam permitido o seu êxito por tantos anos.
Apesar disso, a compositora em mais de uma ocasião destacou que esta experiência foi fundamental para sua formação enquanto docente Marisa salienta que “foi possível mostrar o quão competentes nossos alunos de graduação podem ser. Basta que lhes sejam dados espaço e condições para se desenvolverem e atuarem”.
“Eu tenho muito orgulho disso porque é uma prova de que o trabalho da universidade é super valioso”.
Marisa Rezende ao FMCB