Especial Edmundo Villani-Côrtes 90 anos: Uma vida dedicada à música

Festival de Música Contemporânea Brasileira
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Nesse texto vamos abordar os principais aspectos ligados à biografia e à trajetória profissional de Edmundo Villani-Côrtes. Veremos também quais são as obras fundamentais do repertório do compositor indicadas pelo pianista e professor da UEM, Alfeu Rodrigues de Araujo Filho para quem deseja adentrar nas composições de nosso homenageado.

Edmundo Villani-Côrtes nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 8 de novembro de 1930. Sua casa era repleta de música: o pai tocava flauta, a mãe era pianista e o tio tocava violão. O compositor recorda este período relatando que Meu pai costumava reunir a família, numa época em que naquela época “não havia a televisão e o rádio estava numa fase inicial, assim sendo, os recursos eletrônicos ainda não estavam tão presentes na nossa vida, e então com a família reunida (meu pai, minha mãe e os meus dois irmãos mais velhos) fazia um concurso, de música: ele tocava uma música na flauta e cada qual escrevia qual era o seu nome.

Foram estas, talvez, as primeiras informações oficiais relativas à música, independentemente do que ouvia no rádio e das pessoas que via e ouvia tocar ou cantar” (Sobreiro, 2016, p. 23). Com o crescente interesse pela música, o primeiro instrumento que aprendeu a tocar foi o cavaquinho, logo, veio o violão.

Tudo aquilo que ouvia no rádio ou no cinema, tentava transportar para as cordas do instrumento. Do piano de sua mãe só restaram memórias, já que o pai de Edmundo adoeceu gravemente quando o compositor era criança. Isso fez com que a família enfrentasse uma série de dificuldades financeiras que os levaram a vender o piano para conseguir dinheiro.

Por essa razão, quando decidiu que queria estudar piano o músico precisou tomar classes na casa de uma tia. O amor pela música o levou a estudar piano no Conservatório Brasileiro de Música, na então capital, Rio de Janeiro, onde foi colega de Guilherme Mignone, irmão do compositor Francisco Mignone. Foi no Rio de Janeiro que Edmundo Villani-Côrtes começou a tocar profissionalmente na noite, integrou a orquestra da Rádio Tupi sob o comando do maestro Orlando Costa e também buscou aprofundar sua linguagem composicional. A professora Iracele Lívero (2014) observa que “O primeiro momento composicional significativo vai ocorrer em 1955 quando, no Cine-Teatro Central de Juiz de Fora, sua cidade natal, estreia seu Concerto nº1 para piano e orquestra, tendo o compositor como solista e, como regente, Max Geffer, um violinista refugiado da guerra”.

A professora destaca que desde o início de sua carreira criativa, Villani-Côrtes irá se pautar pela intuição, mais do que por correntes estéticas fechadas e limitadoras. Esta será uma das maiores características do compositor que admite ser atravessado por inúmeras influências, que muitas vezes, podem parecer opostas como o Camargo Guarnieri e Hans Joachim Koellreuter, dois maestros de Villani-Côrtes. O compositor admite que:

“Quando estudei com o Camargo Guarnieri, fiquei mais influenciado pelo estilo dele, nacionalista. Quando estudei com o Koellreutter, recebi influências do atonalismo, do serialismo integral e do dodecafonismo. Eu tenho peças dessas duas épocas com características totalmente diferentes. E algumas destas obras permanecem inéditas”

EDMUNDO VILLANI CÔRTES (Sobreiro, 2016, p. 23)
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Avesso à rotulações, o compositor diz não compreender quem se reivindica como pertencente a uma só escola.

Na metade da década de 1950, quando retornou a Juiz de Fora, o músico esteve à frente do Conservatório Estadual de Música de Juiz de Fora, concluiu a faculdade de direito e se casou com a soprano Efigênia Guimarães Côrtes.

Na década de 1960 o casal se muda para São Paulo, período em que desenvolve “intensa atividade como arranjador de gravadoras e programas de televisão, chegando a escrever mais de 600 arranjos para as orquestras da TV Tupi e TV Globo, do Rio de Janeiro” (Sobreiro, 2016, p. 16). Neste período também realizou turnês com cantores como Altemar Dutra e Maysa Matarazzo e assinou a trilha sonora do filme “O Matador” de Amaro César e Egídio Éccio.

Na década de 1970 Edmundo Villani-Côrtes ingressa para a vida acadêmica. Neste perído o músico leciona na APM (Academia Paulista de Música), no IA (Instituto de Artes da UNESP) e na Universidade Livre de Música, em São Paulo. Suas aulas costumavam começar “a partir da análise da obra de criadores como Bach, a quem considera o mestre em referências de composição, e Debussy.

Depois pedia aos alunos sugestões. O objetivo sempre foi incentivá-los a compor, independentemente de uma determinada orientação estética”(Sobreiro, 2016, p. 47).

Foi no período em que lecionou na UNESP que o compositor teve a possibilidade de rever muitas de suas composições mais antigas e de se dedicar à construção de novas obras. Segundo ele, foi só a partir deste momento, que enfim, pôde se dedicar de maneira significativa ao trabalho composicional.

Talvez o período de maior popularidade de Edmundo Villani-Côrtes tenha ocorrido quando integrou o quarteto do programa de entrevistas Jô Onze e Meia, conduzido por Jô Soares no SBT, onde permaneceu entre os anos de 1988 e 1991.

Suas obras foram premiadas em diversas ocasiões como na Feira Livre de Música Popular Brasileira, realizada na Cidade do México (1981), no centenário de Mario de Andrade, com Rua Aurora (1993), e recebeu menção honrosa no Noneto de Munique (1978).

Em 2014 foi eleito para a Academia Brasileira de Música, instituição em que ocupa a cadeira de número 11.

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Com uma vasta e significativa obra, Edmundo Villani-Côrtes chega aos 90 anos como um dos compositores mais significativos da música contemporânea brasileira. Neste sentido, o professor Alfeu Rodrigues de Araujo Filho afirma que “Com um estilo musical todo próprio, misturando elementos da música clássica universal ao da música popular urbana, Villani-Côrtes faz questão de chamar sua arte de ‘simples e despretensiosa’.

Curiosamente, essa despretensão faz de Villani-Côrtes um dos compositores brasileiros vivos mais tocados da atualidade. ‘Nunca pretendi ser um compositor famoso, de uma escola, um gênio da música. O meu negócio sempre foi escrever o que eu gostava, o que eu achava interessante. Gostei, está aqui e pronto.’ (VILLANI-CÔRTES, 2009).

OBRAS FUNDAMENTAIS

A pedido do FMCB, o professor Alfeu Rodrigues de Araujo Filho enviou uma lista das obras que considera fundamentais para conhecer a Edmundo Villani-Côrtes:

  1. Prelúdicos 1 ao 9 para piano
  2. Boruloides
  3. Timbres 1, 2, 3 e 4
  4. Cinco Miniaturas Brasileiras
  5. Belibá
  6. Ritmata 1, 2 e 3
  7. Ciclo Cecília Meireles
  8. Álbum de Choros
  9. Sonata para piano
Cinco Miniaturas Brasileiras interpretada pela Camerata Florianópolis durante o Festival de Música Contemporânea Brasileira Edino Krieger (MCB)

Referências Bibliográficas

Os trabalhos citados neste artigo podem ser acessados nos links abaixo: