Ao longo dos anos o estudo formal de música passou por uma série de renovações que abriram importantes debates no campo do ensino-aprendizagem. Dentro deste processo, as práticas interpretativas apareciam como um campo de constantes tensões que puderam ser amenizadas a partir das novas abordagens sobre a performance musical. Segundo o professor Marcelo Guerchfeld (1996) havia uma marcada divisão entre os “acadêmicos” – representados pelos musicólogos, educadores e compositores – e os “inarticulados”, que eram representados pelos intérpretes. Esta fratura evidenciava as diferenças entre os campos do ensino e da prática musical e também jogava luz sobre o baixo valor simbólico que era atribuído à performance.
Este panorama começa a se modificar há alguns anos, quando houve uma maior integração entre as diversas subáreas do campo musical (Aquino, 2003). Este processo colocou ênfase, não mais nas diferenças, mas sim, no papel coletivo de cada um destes elementos dentro da construção de uma linguagem sonora. Felipe Avellar de Aquino defende também que esta aproximação contribuiu não apenas para derrubar mitos acerca dos intérpretes, mas também, ajudou a fortalecer o debate teórico sobre a prática musical. Segundo ele
“O incremento da produção bibliográfica ajudou a derrubar o mito, injustamente criado, de que o interprete não tem capacidade de reflexão nem de articular suas ideias. Ademais, a qualidade de muitas destas publicações vem comprovar a importância da visão do intérprete em relação ao seu repertório”.
FELIPE AVELAR
Este foi o caminho trilhado pelo próprio Edmundo Villani-Côrtes que durante a pós-graduação, pôde se debruçar sobre o seu repertório e reafirmar ou modificar alguns de seus posicionamos com relação às suas obras. O compositor defendeu sua tese doutoral “A utilidade da prática da improvisação e a sua presença no trabalho composicional do Concertante Breve para quinteto e banda sinfônica de Edmundo Villani-Côrtes” na Universidade Estadual Paulista (UNESP) em 1998.
Neste sentido, as obras de Edmundo Villani-Côrtes aparecem como um campo privilegiado para o estudo articulado entre as subáreas da música, que podem ser melhor visualizados através das práticas interpretativas. Para o professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Alfeu Rodrigues de Araújo Filho (2011) “a arte de da interpretação está diretamente ligada à percepção auditiva, contudo, em um trabalho científico, a mesma, estará atrelada à percepção visual”. Sendo assim, há um entrelaçamento no campo da performance musical que permite uma compreensão mais apurada da atuação de um intérprete.
Neste sentido, o professor defende que as obras de Villani-Côrtes representam um constante desafio interpretativo. Segundo ele “Villani-Côrtes é um experimentalista e exigirá que o intérprete se reinvente a cada obra executada. Para manter a fidelidade, é necessário pesquisar a natureza da construção de cada obra como: período de sua vida, título empregado na obra e sua relação com a escrita (partitura) (Entrevista concedida ao FMCB).
De maneira complementar Mônica Giardini (2013) avalia que a abertura para a experimentação sonora e a habilidade em criar peças para múltiplos instrumentos fazem das composições de Edmundo Villani-Côrtes um local de diálogo entre os instrumentistas, que não podem ficar encerrados ao seu próprio campo de atuação. A autora da tese “Processos composicionais de Edmundo Villani-Côrtes na sua Sinfonia nº 1 para Orquestra de Sopros” afirma que “as composições de Villani-Côrtes são obras que raramente podem ser executadas com poucos ensaios, pois só uma excelente leitura dos músicos não é suficiente para uma boa interpretação. Exigem uma compreensão clara do que cada um está tocando para que o instrumentista se encaixe adequadamente no fluxo interpretativo”. Deste modo, a prática interpretativa em Villani-Côrtes é uma questão medular não apenas para a execução de suas composições, como também, para a interpretação das mesmas.
Referências Bibliográficas