Ao longo de mais de 50 anos de carreira Ricardo Tacuchian se destaca como um nome expressivo nas áreas de composição, regência, prática musical pesquisa e docência. O carioca, que teve que optar entre a medicina e a música, se destaca também por sua atuação que ultrapassa os limites dos corredores das universidades e das principais salas de concerto do mundo. Tacuchian trabalhou na Secretária de Educação, e posteriormente, na Secretaria de Cultura do estado do Rio de Janeiro, onde lançou um olhar especial sobre o norte fluminense, região em que se destacam as bandas civis de música.
Segundo ele, estas agrupações estão entramadas na vida das comunidades e participam de uma série de rituais coletivos do cotidiano das cidades “do enterro de uma pessoa famosa ao Carnaval, circo, campanhas políticas, abertura de jogos, baile popular ao ar livre” (Glosas, 2013).
Influenciado por sua esposa, a professora e pesquisadora Maria de Fátima Granja Tacuchian, o compositor foi paulatinamente voltando seu olhar para as bandas civis e para o papel fundamental que estas formações desempenham na salvaguarda dos acervos musicológicos. No texto Organização, Significado e Funções da Banda de Música Civil, Granja e Tacuchian (1984 – 1985) afirmam que a banda de música “é uma manifestação de cultura não-institucional, isto é, não exprime os anseios da classe dominante, minoritária, ou da indústria cultural, mas é uma simples manifestação de cultura do povo”. Deste modo, sua atuação à frente da Secretaria de cultura permitiu colocar estas agrupações como protagonistas da cultura do estado.
Entretanto, foi a partir do contato com o então secretário estadual da Ciência e Cultura, Darcy Ribeiro, que Ricardo Tacuchian começou a gestar uma ideia ambiciosa: a realização de um mega concerto com a participação de bandas de todo o estado do Rio de Janeiro. A apresentação, segundo Ricardo Tacuchian seria o “o resultado de um profundo trabalho de base de vários anos” (Brasil Clássico). O local escolhido para a apresentação foi a recém-inaugurada praça da Apoteose, na cidade do Rio de Janeiro. Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o local integra o conjunto arquitetônico do sambódromo da Marquês de Sapucaí, construído durante o governo de Leonel Brizola.
Sobre a produção do evento Ricardo Tacuchian recorda “Selecionei um repertório de quase duas horas, de música tradicional brasileira, espalhei por todo o estado, ensaiaram durante dois ou três meses e, num domingo de manhã cedo, as bandas se concentraram na Praça e se prepararam para o concerto às quatro horas da tarde”. Antes da apresentação houve um único ensaio geral conduzido por Tacuchian, que, naquela tarde de dezembro de 1985, regeu o maior grupo instrumental da história do Brasil. Foram mais de 2.000 músicos que preencheram de sons o horizonte da praça recém-inaugurada. Ao relembrar o episódio Ricardo Tacuchian afirma que o encontro
Além disso, o compositor destaca que a apresentação serviu como uma forma de coroar o trabalho realizado junto às bandas civis no Rio de Janeiro, que segundo ele, tiveram bastante destaque entre as décadas de 1970 e 1980.
O trabalho de Ricardo Tacuchian junto às bandas civis de música é um importante elemento para a compreensão do momento histórico e sociocultural em que este evento ocorre, ou seja, na transição democrática. Entretanto, a apresentação marca também uma importante forma de observação das dimensões da prática musical através dos circuitos não formais de música. Em seu papel de agente e de testemunha destas modificações, Ricardo Tacuchian afirma que apesar de negligenciadas, por não estarem inseridas no mercado midiático comercial, as bandas civis são um espaço privilegiado para observar as convergências entre educação, cultura memória e animação cultural (Portal de Notícias A2).
Referências Bibliográficas