8ª edição do Festival de Música Contemporânea Brasileira

Conheça Kilza Setti, homenageada na 8ª Edição do Festival de Música Contemporânea

KILZA SETTI nasceu em  São Paulo no ano de 1932. Na infância, estudou  piano,com Fructuoso Vianna e Júlia S. Monteiro.Em 1953, graduou-se em  Piano pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.  Em 1954, selecionada em concurso,obteve bolsa para  composição com Camargo Guarnieri, até 1961. Até 1957 apresentou-se em recitais de piano  e foi solista de orquestra. 

 

Em 1960 dedicou-se a pesquisas musicais em repertórios de tradição oral, entre músicos – pescadores caiçaras do litoral paulista.Em 1970 obteve bolsa de estudos pela Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa, quando iniciou estudos sobre o repertório de música da tradição oral em  Portugal Continental. 

 

O etnólogo francês Michel Giacometti, criador dos  “Arquivos  Sonoros Portugueses”, permitiu à pesquisadora o acesso  aos registros gravados em Portugal, durante décadas. Convidada por Giacometti, integrou a equipe de pesquisas de campo juntamente com o compositor F.Lopes-Graça.Tais estudos permitiram maior compreensão sobre nossa  herança ibérica e possíveis conexões com  atuais repertórios, entre povos caiçaras. 

Em homenagem aos músicos com os quais conviveu e convive ainda, Kilza Setti criou em 1990, a MISSA CAIÇARA, com estreia em 1996, no II Festival de Música Sacra de São Paulo. Coral Paulistano e  regente Samuel Kerr.

 

Em 1982, Kilza Setti doutorou-se em Antropologia Social, pela FFLCH/USP, com a tese “Ubatuba Nos Cantos das Praias” – estudo do caiçara paulista e de sua produção musical (Ática, SP, 1985, Col. Ensaios,113). 

 

O vasto material musical iconográfico coletado, (anotações,registros sonoros),  possibilitou sentir a beleza ,as venturas e desventuras da vida caiçara, principalmente no que ocorre até hoje: a grave perda de sua territorialidade e apagamento de sua cultura. Entretanto, foi possível constatar a tenacidade desse povo, em manter suas tradições musicais,e interessar jovens nas técnicas de luteria (fabricação artesanal de violinos, rabecas, violas de 10 cordas), indispensáveis à continuidade das práticas de música e danças.  

 

Entre 2003 e 2008 organizou seu acervo pessoal, quando criou o projeto “Acervo Memória Caiçara”(patrocínio MINC, PETROBRAS e apoio do I.M.SALLES)  Disponibilizou e doou esse Acervo  ao município de Ubatuba.

 

Desde 1960 trabalhou com núcleos das culturas de derivação africana, Samba do Vale do Paraíba e região de Itu,SP ( projeto CONDEPHAAT (1976/77), além de contatos e estudos em candomblés de caboclo, que permitiram conhecimento dessa bela vertente cultural – o que aliás transparece em algumas obras musicais de seu catálogo.

 

Em 1985 iniciou estudos entre povos GUARANI-MBYÁ e XIRIPÁ (tronco linguístico TUPI),em aldeias do litoral e planalto paulistas. Também em homenagem ao povo MBYÁ, optou por  utilizar as mesmas rezas noturnas, porém já editadas no livro “El Canto Resplandeciente”, Buenos Aires,1984) Kilza criou a obra “Ore Ru Nhamandu Etê Tenondeguá” em 1993, que  estreou na X Bienal de Música Brasileira Contemporânea, em 1985 . Em 1994 iniciou pesquisas na aldeia Krahô do povo Timbira (tronco linguístico ), Tocantins e Maranhão, e manteve contato com as seis etnias desse povo até 2006. Com apoio do Centro de Trabalho Indigenista – CTI, propôs a criação do ”Arquivo Musical Timbira” (apoio MINC, PETROBRAS). Desse convívio resultou a inspiração para a obra HÕKREPÖJ, que estreou na “XI Bienal de Música Brasileira Contemporânea” em 1995. 

Convidada pela UFBA, entre 1988 e 2001, colaborou na implementação da Etnomusicologia em Pós-graduação, quando trabalhou com mestrandos e doutorandos da Escola de Música dessa Universidade. Sua participação em congressos, simpósios, comunicações, palestras, resultou na produção de resenhas e artigos publicados no Brasil, Argentina e Alemanha.

 

Em seu catálogo, Kilza Setti conta cerca de 150 obras, sendo 10, premiadas em concursos nacionais.Teve obras apresentadas na Alemanha, Áustria, e outras cidades da França e Inglaterra. 

 

Musicou vários poetas: entre outros, M. Bandeira, Drummond de Andrade, Hilda Hilst, Margret Hölle. além de vários  textos de Mário de Andrade. 

 

Em 2003, em projeto pioneiro, 20 anos antes da Amazônia tornar-se foco internacional de debates – a APOPLLON STIFTUNG de Bremen, por sugestão de Renato Mismetti, apresentou o Projeto: “Enzaubertes Amazonien”; A compositora apresentou a obra “Acalanto do Seringueiro” (texto M. Andrade),  com estreia em Berlin, 2003 (barítono R. Mismetti, piano Max de Brito). Reapresentações em Bayreuth,Salzburg, Viena, além de Manaus e Belém.

 

Kilza é membro da Academia Brasileira de Música (ABM), da Associação Brasileira de Etnomusicologia (ABET), da Associação de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM). Sua produção musical procurou sempre dar voz aos  povos esquecidos ou ignorados.

 

A homenagem no 8º Festival de Música Contemporânea reconhece não apenas a longeva carreira de Kilza Setti, mas também sua contribuição inestimável para a riqueza e diversidade da música brasileira. 

 

Quer fazer parte da história do festival que irá homenagear Kilza Setti e João Bosco, em 2024? 

 

A convocatória para envio de trabalhos sobre a vida e composição desses compositores estará aberta até o dia 31 de janeiro, através do site fmcb.com.br participe!