Especial Edmundo Villani-Côrtes 90 anos: Um compositor entre o erudito e o popular

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Edmundo Villani-Côrtes, compositor que completou 90 anos no último domingo, possui um vasto catálogo de obras e uma trajetória peculiar. Foi aluno de Camargo Guarnieri e Hans-Joachim Koellreuter e nunca se prendeu à escolas e estéticas que limitassem os seus impulsos criativos.

O compositor revela que quando ingressou no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro, os professores não gostavam muito de dar aulas pra ele porque “eu perguntava muito e gostava de tocar música popular” (O Aboré). Apesar desta “resisitência” por parte de seus maestros, Villani-Côrtes manteve os elementos da música popular como um dos traço marcante de sua escrita composicional. No entanto, tal característica colocou o compositor em uma espécie de não-lugar dentro do cenário musical, uma vez que, segundo ele:

“Mostrava as minhas peças para o pessoal da música popular, eles achavam que era muito erudito e não se interessavam muito. Na música erudita, de concerto, me falavam que minha música era interessante, mas tem aquela cara de popular. Então, nunca fui persona grata em nenhuma escola”

EDMUNDO VILLANI-CÔRTES

A habilidade em transitar pelos dois universos musicais não se deve exatamente a um tipo de pretensão, mas responde mais a um desejo: a vontade de jogar com os instrumentos e de explorar as possibilidades que se apresentam. Segundo ele, suas principais influências advindas da música popular vieram da Bossa Nova e em menor medida, do Tropicalismo (Filho, 2013). Segundo o professor Alfeu Rodrigues de Araújo Filho existem “três importantes elementos da música popular efetivamente presentes em sua literatura musical: harmonia, melodia e ritmo” (Entrevista concedida ao FMCB)

A partir deste sentimento e da sugestão de um amigo, o violonista Jaques Morelenbaum, Villani resolveu criar uma obra que unisse as principais características rítmicas e harmônicas de sua assinatura musical. No constante jogo entre o erudito e o popular surge em 1985 a série Ritmatas, obra que é analisada na tese de doutorado do professor Alfeu Rodrigues de Araújo Filho (2011). Neste trabalho o professor destaca que apesar da sensação de deslocamento relatada pelo compositor, suas obras floresceram tanto no terreno da música erudita quanto no campo da música popular. Podemos ver um exemplo desta articulação na peça Pequena fantasia sobre o tema dos “Escravos de Jó” interpretada pela Camerata Florianópolis.