A década de 60 marcou uma etapa de expansão dos limites do experimentalismo das artes no Brasil. Esta efervescência trouxe frutos prolíficos para a música popular que soube se apropriar e inserir estes elementos, não apenas nas composições, mas também na performance e nos materiais gráficos produzidos no período. O historiador Marcos Napolitano (2002) defende que as balizas temporais que compreendem o período entre a Bossa-Nova (1959) e o Tropicalismo (1968) assentam as bases da renovação musical no país sob a égide da institucionalização da sigla MPB. A união destas três letras funcionam não apenas como um marcador de segmentação de mercado, mas sobretudo, como um aglutinador de estilos e sons, ou nas palavras de Napolitano: “…uma pluralidade de escutas e gêneros musicais que, ora na forma de tendências musicais, ora como estilos pessoais, passaram a ser classificados como MPB, processo para o qual a crítica especializada e as preferências do público foram fundamentais”.
Absorvendo toda esta multiplicidade e inspirado pelos anos de psicodelia e experimentação iniciada na década de 1960, em 1970 João Donato grava a convite da discográfica Blue Tumb Records, dos Estados Unidos, o álbum “A bad Donato”.
O disco, que completa 50 anos em 2020, está composto de 10 músicas que exploram a fusão entre ritmos como o jazz, o funk, o rock, a eletrônica e a MPB. Dotado de um clima livre e experimental “A bad Donato” contou com os arranjos de Eumir Deotado e com a participação de músicos como o grande nome do jazz-fusion, Dom Um Romão, Oscar Castro Neves, Bud Shank, Paulinho Magalhães e de outro ícone do jazz, o contrabaixista Ron Carter.
A grande liberdade artística proporcionada pela gravadora foram determinantes para o resultado estético alcançado por João Donato neste disco que remete à pluralidade sonora da MPB. O uso de sintetizadores mesclados à uma bateria dinâmica e à percussão oferecem ao ouvinte um som divertido e atemporal. Em 2007 a revista Rolling Stone, elegeu “A bad Donato” como um dos 100 melhores discos brasileiros. Ouça agora o disco “A bad Donato” e não perca o Festival de Música Contemporânea Brasileira entre os dias 24 e 28 de março de 2020.