João Donato
João Donato

Compositor, cantor, multi-instrumentista e arranjador

Músico pioneiro da bossa-nova, é um dos responsáveis por popularizar a música brasileira no exterior. João Donato atuou ao lado de grandes nomes do jazz internacional como Mongo Santamaría, Chet Baker, e Bud Shank.

Nascido em Rio Branco no Acre, João Donato desenvolveu um amor pela música desde muito cedo. Seu primeiro instrumento musical foi o acordeom de papel, que o incentivou a experimentar e a sentir os sons que o cercavam. “Eu saí tocando. Tocava ‘Tatu subiu no pau’, ‘Ciranda cirandinha’. Se impressionaram com aquilo e foram me dando acordeons melhores” (Jornal Musical).

O treino de escalas ao piano realizado pela irmã Eneyda e as classes do sargento da banda militar da polícia contribuíram na formação musical do jovem. Aos 8 anos compôs sua primeira peça, uma valsa intitulada Nini. Em 1945, o pai de João Donato é transferido para o Rio de Janeiro, para onde se muda com a família. Ao chegar na então capital federal, Donato, que recém havia completado 11 anos, já possuía grande habilidade no acordeom de 120 baixos, com o qual animava festas e bailes de colégio. Se profissionalizou quatro anos depois, e antes disso já era conhecido no circuito musical. Havia participando das Jam Sessions que aconteciam na casa do cantor Dick Farney, das quais participavam nomes como Johnny Alf, Paulo Moura, Nora Ney e Jô Soares.

 

João Donato, que sonhava em ser piloto da aeronáutica como o pai, foi demovido pelo daltonismo, do qual é portador. Foi a partir daí que se lançou com mais ímpeto em voos repletos de cores que só ele podia nomear. Nas teclas do piano, encontrou um novo refúgio que proporcionou a formação de novos grupos musicais: Donato e seu Conjunto, Donato Trio, e o grupo Os Namorados. Segundo ele
O piano te dá a liberdade. Não é aquele trambolho pendurado no pescoço”
(Jornal da Música).

Seu primeiro disco, Chá Dançante, foi lançado pela Odeon em 1956, com direção musical do estreante Tom Jobim. Dois anos mais tarde, grava com João Gilberto, Minha Saudade e Mambinho. Neste ano a Bossa Nova, movimento musical do qual foi um dos pioneiros, se fortalece e conquista o público.

 

Inquieto e curioso, João Donato parte para uma temporada nos Estados Unidos, onde atua sobretudo em cassinos. Foi lá que se aproximou da música caribenha e de seus desbordamentos sobre o jazz. Integrou importantes orquestras como as de Cal Tjader, Mongo Santamaría, Tito Puente e Johnny Martinez. Acompanhou também o parceiro e amigo João Gilberto em suas turnês europeias.

"Não se pode viver sem música e sem água."

João Donato, Rio Branco, AC. (foto: Clever Barbosa)

No início da década de 1960 com a popularidade cada vez maior da bossa-nova, o nome do compositor se
transforma em elemento de culto. João Donato, segundo o jornalista Ruy Castro
era uma lenda entre os músicos mais novos – para alguns, pelas histórias que ouviam, ele devia ser algo assim como o Curupira ou a Cobra d’água”.

Neste período lança dois discos clássicos da música instrumental: Muito à Vontade (1962) e A Bossa Muito Moderna de João Donato (1963). No final da década o compositor retorna aos Estados Unidos, trabalhando como nomes como Chet Baker, Nelson Riddle, Herbie Mann e Bud Shank. Ao lado de músicos como Tom Jobim, João Gilberto e Eumir Deodato ajudou a popularizar definitivamente a música brasileira no exterior.

 

Na década de 1970 começou a escrever letras para suas composições instrumentais por incentivo do cantor Agostinho dos Santos, firmando novas parcerias na MPB ao lado de compositores do calibre de Chico Buarque, Aldir Blanc, Arnaldo Antunes, Cazuza, Gilberto Gil e o do poeta Haroldo de Campos.

 

Depois de um hiato de lançamentos de álbuns de duas décadas, João Donato regressa em 1996 com Coisas tão SimplesEm 2017, produziu um trabalho com sintetizadores ao lado do filho, Donatinho. Reverenciado por gerações de músicos, o livre e multifacetado compositor está sempre aberto à novos voos e paisagens.

Seu ecletismo pode ser visto no DVD Donatural (2005), onde recebe variados músicos que vão de Leila Pinheiro e Joyce Moreno a Marcelo D2 e o DJ Marcelinho da Lua. Recentemente, em 2021 lançou um o disco Síntese do Lance em parceria com Jards Macalé. 

 

Este compositor apaixonado que afirma que “não se pode viver sem música e sem água” trouxe infinitas contribuições para a música brasileira (Agência Brasil)Por este motivo, recebeu uma série de homenagens e prêmios ao longo de sua carreira como o Grammy Latino (2010), na categoria de excelência musical e o Prêmio da Música Brasileira (2018) na categoria de melhor álbum eletrônico.

 

Em reconhecimento à sua prolífica trajetória, o Festival de Música Contemporânea Brasileira (FMCB) homenageia João Donato em sua sétima edição.

Trabalho de João Donato

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